quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O amor e o mercúrio...



Einstein, certa vez, embalado por um de seus corriqueiros "derrames de sabedoria incomum", afirmou que a inteligência não residiria na descoberta de algo nunca antes refletido, mas do debruçamento sobre o que se mostra como sendo usual em nossas experiências...


Essa fala sutil e sensível deslocou minha mente rumo à contemplação sobre o tema, voltando a uma cena do filme "Patch Adams", onde o protagonista aprende com um senhor internado - bem já de idade e supostamente acometido de alguma perturbação mental (falo isso porque, quando me lembro, vem à mente a seguinte proposição: "nossa, se ELE, a partir do que falou, é considerado louco, acho que o melhor, dentro de uma sociedade que se diz sã e decai a cada dia, é ser louca") - a olhar além - ou "para-além" do que se coloca como "óbvio" aos nossos olhos.


Isso porque, o referido senhor lhe estende a mão, mostrando os quatros dedos em riste. Daí pergunta ao aprendiz de médico quantos dedos ele via ali. Patch Adams - então aluno de Medicina - confiante no conhecimento formal que recebera - afirma categoricamente ver ali 4 dedos.


O senhor, então, com um sorriso compassivo no rosto (aqueles que somente almas em estado de graça conseguem esboçar por pressuposto), diz ao jovem: "errado, aqui tem oito". A seguir, propõe para Patch que olhe para o horizonte da mão, quando o "foco" da acuidade física do olho não mais consegue alcançar. O jovem, assim procedendo, descobre estar diante de 8, não mais de 4 dedos. Curioso, indaga do senhor a respeito disso, obtendo como resposta algo muito simples: "olhar para além do que se mostra como óbvio e aparente".


Essa introdução sobre as falas de pessoas geniais situa outra importante reflexão nesses dias de júbilo. Vou chegar lá... Em uma agradável conversa - dessas que igualmente são raras, preciosas e invulgares - típicas de quem ingressa num estado lânguido de plenitude face ao mundo e a si - ouvi uma curiosidade sobre o que, até então, era o óbvio...


Fui instada a refletir sobre a gota de mercúrio saída de um termômetro quebrado, postada na palma da mão. Para essa pessoa - genial - o amor comportar-se-ia exatamente como a gotinha de mercúrio: se a gota for separada, "algo a faz se juntar novamente", porque, segundo o relato, são feitas do mesmo material.


Se essa gota for ficar na palma da mão mas não se tomar cautela com ela, o resultado será o esvaimento e dela e, com isso, a perda... De mesma sorte, se tentarmos apertá-la, escoa, fluindo pelos dedos e simplesmente... indo embora!


Mas se a colocarmos no meio da palma e dermos a ela a atenção devida, além de ficar ali... supera-se a apartação e, na integralidade, ela manter-se-á intacta, sempre e sempre. O que fica de lição de uma história tão linda?


Muito simples... quando cursava Física, fizemos essa experiência no laboratório de Química, "brincando", de maneira ingênua e pueril, com a gotinha feliz que, de um lado para outro, ia e vinha, fragmentava-se e se reunia, numa continuidade que estava sujeita - em um primeiro momento - à nossa "bem humana" necessidade de impelir controle em tudo e em todos.


Mas, a certa altura da festividade, a falta de tato - literalmente - fez a gota se espargir e, com isso, nossa brincadeira findar. Escutando a "história do mercúrio", contextualizada a partir das falas de Einstein e do sábio do filme (um oráculo, na verdade), firmo, a cada dia de minha existência, a perspectiva de me abrir para olhar além do que se mostra como sendo uma verdade firmada em grau absoluto, pois o essencial, como já dizia sabiamente Exupèry, é "invisível aos olhos" e só se enxerga com o coração...


Nunca havia pensado - depois dessa experiência no laboratório de química - sobre a ludicidade do tema, pois a verdade era, até então, a dicotomia da gota ante suas propriedades enquanto líquido e a amálgama em função de sua alta coesão molecular. A razão obstaculizando o sentimento, o cartesianismo sufocando a leveza da expressão de sensibilidade... O mental, enfim, impossibilitando sentir (e não apenas observar) o óbvio: o amor presente em uma gota de mercúrio!


Com esse compartilhar de sabedoria singela, coloquei-me em meu momento "Patch Adams", quedando-me, mais uma vez - após tantas e tantas outras vezes - em momento de (re)descoberta, pois meu pequeno-grande mundo de aprendizagem coligou mais essa valiosa lição: meu "mercúrio de laboratório" era meu mundo em 4 dedos mas, depois dessa história linda - cujo conteúdo rendeu a reflexão de agora - meu universo está ém expansão e já posso sentir o enxergar de muitos outros infinitos dedos, todos ali, na mesma mão!!!



Um comentário:

  1. Observando o "mercúrio" no seu texto, vi também um momento em que o cosmo proporciona a cada ser. Momento este de segurar o "mercúrio", aproveitar oportunidades, saber quando o universo envia algo para alguém, e se este SER não souber aproveitar a oportunidade; O "Mércurio" pode ir embora entre os dedos da mão...

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