quinta-feira, 19 de maio de 2011

O resgate da celticidade no ígneo pulsar dos cabelos esvoaçantes

Sempre que assisto ao filme "A Rainha da Era do Bronze" saio revigorada pela força e contundência da labareda que esvai da cabeça de Boudicca, esbelta, firme e poderosa, nos cabelos cor-de-fogo que marcam as entranhas da mulher celta.

Estava, há tempos, tentando encontrar o motivo essencial de resgate, dentro de mim, de tamanha potestade, como se fosse realmente necessário firmar alguma justificativa para simplesmente mudar a cor do cabelo: nada disso, basta a motivação interna de simplesmente se permitir e se deixar levar pela imanação do desejo de mudar...ou, no caso, de voltar às raízes.

O vermelho espelha a cor do poder, da lascívia, da passionalidade. Rubro lembra Lilith, a devassa concubina do mal, que, desejosa de igualdade, não se submetia ao sexo por baixo de Adão. Odiosa Lilith que, contestando o senhorio, foi confinada a parir demônios nos confins do mundo, sendo relagada à apagada Eva - loira angelical Eva - a demanda do subjogo em face do homem reinante.

Se o estado de loirice é irrestrito, para ser ruiva existem requisitos que nem todas as mulheres estão dispostas a pagar. O primeiro deles é o empoderamento de si, sem que se olhe para o lado e para o juízo daqueles que, desentendedores das histórias do mundo, apenas se limitam a valorar o que não sabem em maciças inglórias subconscienciais, hordas de ignorância em relação à beleza do vermelho, que pulsa como sangue, trazendo vida por onde quer que passe.

Glorioso rubro, marca de poder: presente na pedra rubi dos advogados, clérigos, das rainhas e das princesas. Desperta ambição, lembrando desejo e vontade. Panfletária liberdade que poucas estão dispostas a pagar porque, ao final, rendem-se à curvatura do patriarcado que, ainda, insiste em dar sinal de alguma vida além de sua morte.

Autonomia para o rompimento com a obviedade, outra marca essencial para se conclamar digna da ostentação do ruivo...O comum é o que se aplaude em sociedade, uma coletividade que elenca o loiro por relembrar a sinfonia de anjos que, afastando Lilith-ruiva, eleva aos céus a prece da redenção da alma dos pecadores...Mal sabem os devotos que o mais loiro de todos, Lúcifer, contestou a glória do senhor amado. E, com a ruiva amaldiçoada, desceu à Terra a centelha do fogo que foi apropriado pelos deuses que puniram Prometeu.

Sim, o ruivo...sempre o ruivo...

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