quarta-feira, 9 de março de 2011

O sacerdote asceta no médico-louco de Nietzsche

Obviamente se trata de Nietzsche em Genealogia da Moral, a partir da página 106, já no finalzinho da terceira dissertação. Deveria se chamar Genialogia da Moral, tamanha a perspicácia desse filósofo (ou, para alguns, filólogo) à frente de seu tempo, apregoando, muito antes mesmo, a "nova" ciência da mente...

Na terceira dissertação o alemão fala sobre o comportamento asceta - caracterizado pelo desapego de si, do mundo, da vida, enfim, tida como uma "ilusão" que deve ser abandonada em função da integridade do espírito.

Mais adiante, tece comentários sobre a função dos médicos e dos enfermeiros - claro, em sentido lato e filosófico - qual seja, "ter o domínio sobre os que sofrem", sendo, eles mesmos, os primeiros doentes, pois não poderiam ser os sãos a assistirem os doentes (hahaha).
Não estou fazendo um tratado sobre a Medicina ou a Enfermagem [escusas, pois apenas converso com o livro], mas, antes, apenas rindo internamente do diálógo travado entre a minha mente fecunda e o mestre alemão, a partir das experiências com os aspirantes a "dominatrix" iconoclastas de Hipócrates (deveria ser também Hipócrita), que, num arremedo de inspiração filosófica (será, duvido que tenha alguma formação na área, tanto que irá buscar o que não tem), erigem Maquiavel em O Príncipe como seu livrinho burlesco de cabeceira.

Pobre Maquiavel, deve se revirar na cova, ao saber da asnice dos que decidem ler sua obra ser o menor critério, a não ser o da ignorância de seu estado precário de espírito... Burlesca é a leitura perdida do estadista, para apenas justificar uma "estratégia" interna que longe está de ser inovadora, pois, claro, estamos falando em "primatas". Sempre são - ou somos - primatas! Isso é maravilhoso!

Adoro Maquiavel, claro, mas entendo que, para o aporte às pretensões de saída de uma degeneração ética dos que se vangloriam de ocupar um alto posto na escala vertiginosa da depuração moral (esses e essas, para Nietzsche, os/as mais doentes), ler o alemão traz mais alento.

Afinal, para o mestre, é preciso estar, em si, para si, doente para poder entender outro doente. Nisso, pergunto-me: residiria, respectivamente, no coração e na mente dominatrix o veneno da doença que leva o menino a estudar a si?

(...) Continunando...afinal, falo em Nietzsche.

O doente, fingindo ser o que não é, anda entre aves, colocando-se como superior, viril, frio, um urso [segundo Nietzsche], mas, a bem da verdade, apenas se faz seguro o bastante para, depois, poder fazer o que sabe bem: ferir, envenenando, no mesmo ato de "misericórdia" cordata, quem, como ele, degenera-se e se esfacela (p. 103).

Em que medida é asceta essa figura higienizante? [voltemos um pouco, tanto para entender o asceta, como para contemplar o menino-dominatrix]

Quando, negando a vida, por meio da homília e da capa de simploriedade - ou seja, repudiando o mundo a que reputa ser de ilusões - cria a representação de tudo [amor, caridade, compaixão] a partir da negação de si, e, negando a si, pretende ser o que não é, projetando-se no modelo que nunca virá a ser, um molde imperfeito, inimigo da vida!

Ele, porém [sobre quem falo? Sobre o asceta, o moço dominatrix ou sobre mim quando decido eventualmente sair do círculo sagrado de mim mesma para tentar interagir com a tipologia do überman estereotipado e caquético?], desejando ser outro, prende-se, cada vez mais, aqui, no modelo do que repudia, mas que, ao final, é, por pressuposto...

Tenta, tenta, tenta e, não passando de um embuste em si mesmo, acotovela-se na batalha campal que trava contra si e os outros. Firma-se como o mais fraco, o carneiro que deseja ser a águia, mas que nunca sairá, por fim, do chão.

Para Nietzsche, o asceta constitui a mais alta excelência na conservação e afirmação da vida, já que se firmar num comportamento de negação apenas reforça "contra o que" essa tentativa se volta: a vida, em sua pulsão.

Pobre asceta! Pobre menino-dominatrix! Pobre de mim!

2 comentários:

  1. Sim. E somente para deixar mais claro do que entendi da sua leitura do Nietzsche (suponho que tenha sido por volta do §13,certo?): o asceta é uma pulsão de vida voltada contra a vida e que não se assume enquanto tal. E, por isso, é algo tão perigoso. É um pernicioso que não se assume e não têm noção do que faz, utilizando a vida contra a vida, pensando, erroneamente, estar a exaltando a vida ou "curando" os "doentes"... quando, de fato, contribui justamente para o contrário... Ou seja, são, sim, afirmadores de vida, entendido isso enquanto pulsão ou vontade de poder, porém, acabam por lutando contra aquilo que Nietzsche entende como vida saudável, sendo, portanto, negadores da vida (em outro sentido).

    ResponderExcluir
  2. Pois é, isso! Tanto quando procura "escapar", entendendo que, com o "despojamento", cura-se, como, também, depois de "curado", domina, controla e submete o fraco que jaz a sua frente...
    Penso que, como "caricaturas", a existência reafirma a vida que, de fato, em suas experiências, querem negar...

    ResponderExcluir