terça-feira, 8 de março de 2011

O refrescante vento da mudança...

Existem mudanças avassaladoras como uma ventania tropical, assolando tudo ao seu redor e transformando a pasisagem por onde quer que passem...

Chegam para atordoar, transformar a partir da destruição do que era, até então, firme, forte, caro e seguro para nossa vida. Essas tormentas, porém, podem ser rapidamente esquecidas - tal qual uma reportagem sensacionalista sobre alguma tsunami - de modo que, num menor sinal de fenecimento da ventania, o que habitava o espaço logo volta, retomando o que seria seu leito original.

Outras mudanças, contudo, são assentadas por uma brisa que, aos poucos, sussurra em nossos ouvidos. Um sinal aqui, outro acolá. É uma espécie de enamoramento, onde a suavidade penetra languidamente, sem o atropelo do tufão, mas não menos contundente e edificante...

São essas as mudanças que desalinham paradigmas...que dissolvem as ilusões. Provocam fendas irremediáveis, pois transmutam, em defintivo, nossas geografias pessoais. São mudanças que nos trazem para a inquietante retomada de consciência, onde a ciência traz a ação, e não apenas o pensamento inerte e empoçado da pasmaceira.

Há tempos a brisa vinha se enamorando de mim.

Eu, contudo, fiel a um núcleo que julgava "denso" [na verdade, o medo de me enfrentar na profundidade do que sou], negligenciava o que essa gentil moça estava a me dizer. Afinal, ouvi-la pressupunha olhar para mim e para as pessoas que me eram caras, num aceno de prováveis rupturas que não estava disposta a fazer.

Todas as vezes em que ela se aproximava eu a repelia, negando-me incessantemente e, com isso, passando por cima do que tenho de mais importante, minha intuição eivada de emo-racionalidade...

Foram-se passando anos, quase vinte, sem que eu percebesse o quão poroso e infértil era o chão em que pisava, solo cuja composição estéril foi por mim mesma construída...

Como fiz isso? Pergunto-me...Simples.

Não querendo sair da zona de conforto porque - eu já sabia - se eu saísse da minha concha, nada, absolutamente mais nada haveria de resistir e existir. Quebraria os frágeis cacos - já estavam quebrados mesmo - com os quais compartilhei minhas ilusões pessoais que, a bem da verdade, foram um "surto coletivo" em boa parte do tempo de diversão.

Mas a providência está sempre certa, pois é na hora da dilaceração da alma que essa brisa ganha força, impulsionando-nos também nessa mesma força, rumo à tomada de consciência em relação ao equívoco.

Assim acordei, em um lindo dia azul, disposta a sangrar, ainda mais, todas as mentiras consolidadas em minha mente.

Não, não, não existem erros. Não existem culpados.

Apenas couraças de fragilidade! E pactos de conveniência para se manter a frágil liga que a brisa já acenava ser incongruente.

Um dia, saindo de minha casa, em uma situação de intensa dor física, dirigi-me ao local onde providencialmente permiti, pela primeira vez, a brisa entrar, descobrindo um mundo de possibilidades, entre elas, a de perceber o vazio e o abismo existente entre duas pessoas que se amam.

Sim, é possível amar assim... Mas, enfim, distanciando-se do que, ao final, toma-se como prejudicial ao próprio viver.

Sem dramas ou arrependimentos, pois, por derradeiro, cada um de nós sabe onde o sapato aperta, bem como o momento de dizer um grande "até logo".

Mas, e quando o "até logo" sempre foi a base em cima da qual assentou-se uma promessa não cumprida de amizade?

Sim, refiro-me a isso, exatamente ao atropelo das adolescentes desavenças que, com os anos, foram formando muralhas emocionais, cada vez mais e mais sedimentadas com omissão e fuga.

Refiro-me à evasão, ao silêncio, a abandono mútuo que, posteriormente, foi providencialmente "deixado de lado" às custas de um beneplácito cordato e cristão de perdão? Nunca se perdoou, ao final, porque a estrada, em si mesma, nunca fora assim. Nossa, como é feliz a verdade!

Libertadora verdade!

Quando comecei a pensar na competição, no empuxo inicial de inveja, raiva, arrogância, lembrei-me que foi esse, e não outro, o solo em que atraquei meu barco. O tempo apenas acomoda melhor a desavença, trazendo para o plano do simbólico o que era apenas o requinte do visível.

Sem problemas...Aliás, não existe mais problema quando se enxerga a vida como ela é, bem como as pessoas, como são [inclusive eu].

É assim que a vida segue seu fluxo... Para a frente, dizendo "até logo" ao que não comporta mais numa vida que nunca fora, ao final, o que se apresentava...

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