segunda-feira, 7 de março de 2011

Guardando-nos na caixinha ou réquiem para um estelionato emocional, parte 2

No amor carnal que se concretiza na efemeridade da explosão, tudo é pleno!

Sentimo-nos nas nuvens, com o coração cheio em si. Espaço e tempo tornam-se diminutos diante da certeza do preenchimento de uma potestade incompreensível a olho nu, mas que acena para um desejo intrínseco de perpetuidade que afasta o fim. Inevitável fim...

O coração palpita, as pupilas dilatam.

Cada centrímetro do corpo reverbera sinfonias atônitas diante da afinidade gerada no prazer. Além de se tratar de uma fisiologia anunciada, compartilhar momentos de intimidade revela existir um mundo novo, "para além" da intempérie emocional, pois se relaciona à dinâmica de uma história já compartilhada em mente e amalgamada em espírito.

As afinidades e sincronicidades daquele almoço incomum desembocaram na manifestação etérea dividida com aquele homem de semblante tão sereno. Logo, de plano, sua ideia foi a propositura do assenhoramento.

"Quero você para mim". Tão absorta em meus pensamentos de elevação de alma, deixei passar essa frase, sem me importar se, dali a pouco, o sentido de assenhoramente seria o descompasso entre nossas vontades dissonantes, com a colocação do arbítrio num direito de vida e de morte em relação à minha vontade...

Apaixonados, pouco a pouco, entregamo-nos. Ou, ao menos, essa foi a dimensão do que me movera até ali, saindo do sentido que o "eu" representava, para alcançar uma projeção ainda incompreendida do que poderia ser o compartilhamento de experiências com uma pessoa que se mostrava imensamente dotada da capacidade singela de amar.

"Vou colocar você numa caixinha" - que feliz!

Ouvi isso atentamente, em descompasso com minha intuição, que, naquele exato momento, despontou em sinal de alerta a me avisar, num sussurro desprezado, sobre uma pretensão ainda desconhecida, mas que beirava - uníssona - o descompromisso com o outro - esse "ser" tão encarcerado numa caixa!

Cega pela lente cor-de-rosa que paradoxalmente coloquei diante de mim para enxergar melhor a redenção do amor, calei-me diante disso. Permiti que o colorido doce de um conto de fadas assimétrico povoasse meu imaginário de mulher tão emancipada, pois, ao final, ofertei-me para a imolação da alma entregue, colocando em meu saquinho de carências toda a minha vida, de modo a entregar ao outro o destino de minha felicidade...

Quedava, enfim, diante da ilusão montada, esquecendo-me que a ilusão nunca se transforma em algo real...

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