quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Réquiem de mim...

Tento acordar na esperança de compreender, enfim, a experimentação da impermanência, confiando que, após um sinistro túnel escuro, em algum lugar exista um sinal, ínfimo, que pacifique minha alma e a conforte em meios a tantos atropelos.

Dia após dia, porém, durmo e feneço, acordando num mundo que, para mim, extrapola o real, para se transformar num sonho lúcido. Não sei quando sonho, quando acordo: tudo é confuso dentro de mim, pois a luz, aquela mesma que outrora tanto iluminou, hoje se exaure, um pouco, trazendo a inconstância entre luz e sombra...

Meu coração chora, meu corpo cansa e meu espírito parece sucumbir em meio a um vendaval de incertezas, que se somam, uma a uma, à dubiedade do que é o próprio viver.

Mergulhada em profundos lampejos do que, antes se fazia pranto, nem bem certeza tenho se o que verto, agora, são lágrimas, pois a caudalosa represa efuziante cedeu espaço à escassez de mim. Seca, estéril e desalentada em meus anseios, quedo-me findando, pouco a pouco, no que temo ser meu ego insistente, ou, ainda - já nem, bem sei - minha alma que se desfaz em fragmentos que não se rejuntam.

Na incerteza dentro da incerteza perfaz-se a certeza da dor, pois a chaga insiste em não fechar. Eis a contramão da impermanência, contida num pequeno pedaço de ferida contundente que, mesmo aparentemente se fechando dentro desse forte músculo chamado coração, lacera-se, em muitos momentos, tentando tomar fôlego para continuar uma jornada que ninguém me ensinou a percorrer.

Celebro meus ritos, entoo cânticos, evoco deidades. Só o que sei é que na solidão de mim encontro a resposta para tanto infortúnio...ao final, quem sabe, o abraço amigo de Hécate realmente se faz na temperança da solidão. Talvez tudo realmente seja uma contingência de felizes combinações feitas em outras esferas, outros mundos. Não sei. Há tempos que o frio estagnou minha lucidez e estancou o campo fértil de minha felicidade mais profunda.

O que alenta, afinal, é a entrega, o compasso do desapego de mim mesma, para que, compadecidas de mim, minhas ancestrais decidam o destino que não tenho coragem de encarar de frente. Nobres e sábias ancestrais! Já assistiram a tanto! Quem sabe, de tanto serem espectadoras podem, agora, fiar a roca de minha fortuna. Eu já não quero mais rocar...

Pedi ao ar que levasse embora o que não era real... Sussurrei ao fogo que transmutasse o ilusório. À terra pedi apenas que fixasse o que era verdadeiro. E à água que assim purificasse o pleno. Mas, no silêncio, apenas o silêncio. Onde estão os nobres elementos? Talvez em mim! E eu, impaciente, buscando as respostas em tantos lugares que não em meu coração.

Eis o mistério da dualidade em que chafurdo...estar lá e cá. Vivenciar os segredos da ludicidade que me eleva e me faz alcançar o mundo com meu voo rasgante e profundo...ao mesmo tempo em que, trazendo-me para a mesmice existencial da carne que me assola em intempéries, retira de mim a vontade de me lançar. Quero estar lá, mas estou cá. Quando estou cá, minha alma sofre por não me elevar de mim.

Enquanto isso, o silêncio...apenas o grande lago silencioso em que se exaure o grito sufocado do meu espírito andarilho...

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