sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Segredo do Cálice da Soberania...


Dia novo, vida nova, novas experiências.
Tudo adquire um diferente e mágico significado quando, empoderadas e seguras de nossa Soberania, atribuímos ao mundo - e à nossa existência nele, com Ele - ressignificações e conteúdos inéditos, distintos do molde de condicionamentos que solapam e violetam as almas bruxas que, por pressuposto, são livres.
Às vezes nos esquecemos disso, mas, quando o fazemos, nada como o frescor de uma nova manhã para observarmos a existência de inúmeras possibilidades na vida, prontas para serem fruídas, captadas, vividas, agregadas. Essa é a eternidade que se adquire na lembrança...

Depois de uma ritual auspicioso para as grandes mudanças que estão chegando sem pedir licença - fabulosa expressão de caos criador - acordei com a disposição de quem decide olhar para o azul do céu e deixar para trás todas as hordas de energias desencontradas que resolveram coexistir, por frações infinitesimais, na trajetória mágica de experiências de vida.
Tenho aprendido silenciosamente que a luz pessoal atrai de tudo, desde "curiosos" que reificam nossas vidas no Sagrado Feminino para um simples arquétipo caricaturizado de bruxa-da-verruga, até antigos desafetos que, não satisfeitos com os bacanais de outrora, desejam, nessa existência, finalizar os genocídios que, por pacto, levaram-nos para as fogueiras. Não estamos imunes a isso porque essa é exatamente a sina de uma grande bruxa: enfrentar, sem medo, as malezas de um mundo que está carente de compreensão e amor-próprio. Diante dessa realidade, ataques psíquicos são bem comuns, drenagens energéticas por pessoas que estão perdidas em relação a si também. E nós? O que precisamos fazer?
Transmutar... O que fiz? Transmutei, transmuto. Transmutação. Não me peçam para fazer outra coisa... Sou fogo, ígnea, venho, vou, corro, voo, transformo, transmuto...
Deixei, assim, que o fogo transmutasse o desejo escrito em rima antiga, para, leve e serena, seguir na fluidez do que me é muito natural e suave: ser eu mesma, sem que nada ou ninguém se apoderem de meus sentimentos, amores e dores, ressurgindo firme e sabedora da parcela de Soberania a se desenrolar bem diante dos percalços que, sem saber, insisto em colocar em meus caminhos sacerdotais. Nada escapa da Soberana regente de si quando, não aceitando os pactos velados, saímos da escuridão para transformar, com a centelha criadora do elemento fogo, a sombra em perfeita luz.

A água, em sua leveza, purificou a rima devastada pelo fogo, fazendo com que aquele pedaço de papel que, outrora, havia depositado sonhos desfeitos, fosse, dali em diante, apenas um pedaço carcomido de cinza, pó e nada. Foi-se, assim como veio, a sombra de ilusão que banhava o ar de dúvidas.

Ao final, confesso, não foram horas de deleite erudito nas sendas hindus a me restaurar as forças: foi a magnitude reconfortante do afago da Grande Deusa que se apoderou de minha sina e, acessada pela egrégora de força, tornou-me mais e mais forte...
Lembrar de quem sou torna-me plena em relação ao percurso que escolho, às pessoas com quem encontro em face da vibração em consonância.

A terra sepultou, enfim, o grande engodo, sabendo, como ninguém, calar-se diante de meus atropelos para, sem proferir uma só palavra, estabilizar-me num manancial de lindas ondas faiscantes de um violácea brilhante a sair da ametista transmutadora.
E o ar, ah, o ar! Esse elevou meu pranto de gratidão aos céus e aos confins do Universo, imantando cânticos de verdadeira dignificação da luz que, ao final, une cada uma de nós...

Depois desse lindo passeio mágico nos mistérios dos elementos, embalei-me para dormir, imersa na felicidade do meu fluxo de fêmea a escorrer de minha caudalosa entranha.
Uma gana incomum tomou conta de mim logo pela manhã, quando fui buscar minha herança recém chegada da casa materna em Natal: um antigo cálice sagrado, repositório de nossa força, temperança, passionalidade e impetuosidade. Mas, sobretudo, legado ancestral que nos une, em vida, às espirais helicoidais das grandes matriarcas brujas (ou meigas, em galego) da família de La Vega.

Eis o grande segredo do legado...

Um cálice voluptuoso como cada uma das minhas curvas repletas de audácia e intempérie. Formas sinuosas de uma mulher moldada com ferro, fogo e veludo doce: é o segredo que ninguém revela, mas que professa, em palavras silenciosas que apenas os mais acautelados conseguem sentir com a alma: reside no reluzente cálice a própria Soberania do Feminino manifestando-se na ondulação das águas que se deitam no útero da Grande Mãe...

Eis-me presente, de corpo e alma, no cálice guardado com tanta sabedoria e força. Eis o receptáculo que detém o conhecimento ancestral que se propala no tempo e atravessa espaços. Indo e vindo, absorvendo e devolvendo o grande espírito selvagem da guerreira incontida, da sacerdotisa que tudo sabe, pois tudo tem em torno de si como calmo, sereno e tranquilo.

Sim, a vida flui e no constante devir do que não será porque já é, compreendi na lição do dia que é preciso me lançar no mundo para saber mais dele...

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