sábado, 18 de dezembro de 2010

O cocheiro, a cenoura e o cavalo...

Um dia, assistindo a um documentário da BBC sobre a vida de Janis Joplin, vi uma metáfora que achei maravilhosa sobre o relacionamento entre homens e mulheres.

Na ocasião, o entrevistador perguntou a ela porque até então não se casara ou constituíra uma "família". Emendou perguntando por qual razão ela parecia não acreditar muito em relacionamentos estáveis e duradouros...



Com a inconfundível voz calma e aveludada, ela respondeu com a "parábola" do cocheiro, da cenoura e do cavalo. Segundo Janis, nós, mulheres, estamos sempre nos posicionando como os cocheiros, com cenouras em frente a cavalos (homens) com viseiras: uma luta vã, pois, tal qual o cocheiro sabe que não pode esperar muito de um cavalo que somente corre porque se motiva por uma cenoura colocada em sua frente, nós, mulheres, nutrimos expectativas demais em relação às cenouras que colocávamos na frente dos homens.


Ou seja, colocamos cenouras para que os cavalos andem sempre na frente, mas, basta tirar-lhes o petisco para cair por terra o significado da compreensão em relação ao que deve e pode ser feito dentro de um relacionamento equânime.


O que acho de providencial nessa história? O fato de revelar uma serenidade e uma lucidez enormes em relação ao complexo sistema relacional, o binômio homem-mulher, ou melhor, a tríade cocheiro-cenoura-cavalo, no amplo contingente da estrutura de interações afetivas entre os gêneros.



No caso, a dimensão que dou às cenouras, aos cavalos e aos cocheiros em nossas vidas relaciona-se à sinceridade, lealdade e ao respeito à sensibilidade no que tange a como ver, sentir e lidar com o Outro. No caso, como o gênero masculino lida com o feminino.



Cada diz que passa, tenho ponderado a respeito de como a violência de gênero está se tornando corriqueira e sutil em termos de arraigamento nos relacionamentos, com a desvantagem de não serem menos nefastos seus efeitos.



O masculinismo em decadência está em conflito com sua truculência simbolicamente delimitada sob a máscara da parcimônia e da "carinha de anjo", trazendo, aos atropelos, a dinamização de um modelo mais "aprimorado" de misógino: aquele que, não prestando atenção a nada além de si e de seu umbigo - no caso, de seu pênis - não quer ou dispensa atenção nas demandas do Outro (aqui o Outro, de fato, é A Outra, sem pretensões, estou a me posicionar na defesa da mulher).



No auge da imaturidade e da síndrome de Peter Pan edipianamente delineada na projeção de relacionamentos com arquétipos de Evas, existem modelos robóticos - e bem previsíveis - de homens que se posicionam como verdadeiros "estelionatários emocionais", sempre aptos a realizar uma drenagem "linfática" em uma mulher, empreendendo, assim, à elaboração do que se chama de ciclo da violência.



Sim, estou falando em violência doméstica, manifestada no seio de uma relação íntima de afeto, cuja construção se amolda e elonga no decorrer de um lapso de tempo, o bastante para o ofensor, aos poucos, quebrar a resistência da vítima e, com isso, iniciar todo um processo psíquico bem elaborado, que passa por omissão de informações, seletividade de dados, manipulação e, por último, submissão emocional, até desembocar, se for o caso, na violência física.



São muitos os casos de homens que se mostram, de início, verdadeiros gentlemen, fazendo promessas que não poderão cumprir, da mesma maneira que o cavalo não poderá fazer muito sem a cenoura à sua frente: trata-se de uma limitação diante da sensibilidade "pata de elefante" com que constroem a dinâmica de um mundo frio, calculista, prepotente e insensível, onde as regras do "jogo" (ele, claro, TEM QUE ser o campeão, ainda que lute consigo mesmo, e ninguém mais) devem ser confratadas por eles, pois, a rigor, não desejam perder espaço para uma "mulher" (apenas uma mulher).



Que espaço?



O que é isso, afinal?



Por que isso tudo acontece?



Não sei, nào tenho respostas, pois, no momento, estou a pensar apenas em repousar em meu casulo...

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