sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A comunicação silenciosa

O céu se apronta para verter as lágrimas de um ano inteiro de muita intensidade, confundindo-se nas gotas cálidas a interface das alegrias e tormentas presentes na oscilação do que é o viver.

Olho para o céu, agora cinza, lembrando-me de quando acordei, ainda hoje, sob o império do azul e do dourado, que resplandeciam na abóbada, sem que sequer eu pudesse prever que, dali adiante, haveria chuva.

Mas sob o olhar profundo da alma que se conecta, é possível saber mais da chuva vindoura.

É fácil comunicar-se com a Natureza, ainda que uma só palavra nem seja proferida: basta abrir o coração para deixar aquele magistral "fluxo" de energia cósmica entrar e invadir nosso corpo, dando a sensação de não existirem membranas a nos separar do Todo.

Essa é a linguagem serena da silenciosa Natureza, aquela na qual sabemos uns dos outros apenas porque nos permitimos a abertura e o despojamento de alma e coração, adotando, assim, um "código" comum e magicamente secreto de compreensão universal, a mais pura representação do Amor.

"O que está em cima está embaixo" - já dizia Hermes Trismegisto na sabedoria hermética da representação dos mundos físico e etéreo. O que se revela nos abscônditos nichos seculares concretiza-se no mais singelo elo entre as energias no mundo. Assim é com a Natureza, assim é com o humano.

Muitas vezes falamos bastante sobre o tempo, o céu, as estrelas, os filmes, as comidas, o futebol, mas, diante de tanto, esquecemos de falar de e sobre nós. Esquecemos providencialmente de compartilhar nossos medos, desejos, planos, porque o "providencial" esquecimento nada mais é do que a amnésia que a psique utiliza para fugir de si, bem como dos outros.

O que seria um mundo de ação comunicativa, de trocas e interações, em nível mais sutil e profundo (naquele em que é a alma quem deseja se conectar), a palavra de ordem é silêncio.

E, de tanto silenciar, formamos abismos e mais abismos, afastando-nos uns dos outros, quase sempre com a desculpa de termos "nossos processos".

Temos processos, o mundo segue processos.

A Natureza segue processos, uma abelha operária segue processos. Nem por isso o mundo pára, nem por isso se congela o viver, muito menos nem é por isso que - em nome disso - simplesmente se opta por ignorar.

Somos maravilhosas almas que ignoram a si e, na solidão de si, não se reconhecem mais no outro.

Com isso, findam-se eras...

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