quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ah, Deusa!

Ao final, muito vale a pena porque mesmo diante dos atropelos de uma alma que se desconhece e, na ignorância, incompreende a amorosidade, recuso-me a deixar de acreditar, um só instante, que reunimos toda latência do AMOR.

Todas as palavras que não foram ditas, todos os compromissos (feitos para si) que se lançaram e esvaíram em pleno ar. Tudo vale a pena, porque, mesmo diante do que se acha ser malefício (tolos os que acham que estão machucando outra pessoa que não a si mesmos), a alma de boa-fé encontra alento para os percalços, esboçando sorrisos e se fazendo, cada vez mais, mais FORTE e paradoxalmente MAIS SENSÍVEL.

Mesmo diante de um ego que precisa ferir o outro para sentir-se vivo, prosseguir amando a vida, em si, é o trunfo de quem ama. Ponto. Não se torna mais necessário outro destinatário que não a vida, com seu mar de possibilidades, todas elas coincidindo para nosso caminho de cumprimento de sina... Ao final, penso, valerá a pena apenas porque cumprimos, com DIGNIDADE e HONRA nosso translúcido caminho de glórias, enquanto tantas outras pessoas chafurdam, perdidas, na lama de suas incongruências...

Para aquelas que acham que se extrai o sangue e a vitalidade de um ser que caminha na LUZ, fico com Clarice, dedicando-a a todos os queridos e amados doces inimigos ocultos:

"Não, não, nenhum Deus, eu quero estar só. E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente, seguramente, inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento.

Eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro.

Não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante; sempre fundido, porque então viverei, só então serei maior que na infância, serei brutal e mal feita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas.

Ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a compreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá o meu caminho até a morte sem medo de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo
"

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