quinta-feira, 29 de julho de 2010

As estações, o Sol a o Amor...

A beleza da diversidade é singela, mas contundente como uma avalanche motivada apenas por um cair de folha: reside na transcendência dos rótulos que as obcecadas almas em busca de liberdade ainda não conseguiram transpor. São as mudanças no sucumbir dos rótulos, ao final, as grandes e paradoxalmente pequenas folhas que precisamos permitir promover nossas avalanches...

Amar pode ser um rótulo na perspectiva de obsessão. Afinal, ainda nos permitimos tanto ouvir tantas melodias apontando sempre para o sofrimento colossal de "quem ama". Ama? Amamos? Amamos a melodia do mantra de atribuição de dor? Amar é condoer-se? Doer-se? Doer? Duvido...

Para boa parte das pessoas em completo desespero, ainda é.

Mas não é sobre desespero que desejo falar hoje, é sobre a magnitude do que significa sentir e se permitir amar.

As almas errantes que perseguem a efemeridade de um simples momento de deleite incongruente e raso não voam, não se lançam, não arriscam e não vivem, preferindo deixar o Sol apenas como moldura de um horizonte pessoal que nunca passará de uma bonita paisagem...

Não se permitem segurar a mão de ninguém e, com isso, se existir voo, ele é raso e na superfície pode até satisfazer a sensação de pequenez humana quanto ao alcance de objetivos, mas não integra a exigência de uma alma que se faz plena.

Amar não é transitar apenas, mas entranhar a sensação de alcance do Sol presente tanto no risco como na segurança, saindo sempre da pasmaceira existencial que as zonas de conforto nos dão para ousar caminhar, sem medo, diante do mais abissal vale de escuridão que a ausência do amor pode trazer para a alma.

É transpor tudo aquilo que já se falou como frase de efeito - seca em si, estéril e meramente discursiva - para se fazer uno na fala, no pensamento, na vivência e no lançamento.

Lancemo-nos! O que nos espera?

O Infinito diante de nós! Galáxias dispostas em planos cuja dimensão maior está além de nossa compreensão, mas presente em nossos corpos. Afinal, o músculo mais forte do ser humano é o coração e o cérebro tem mais neurônios do que as estrelas no céu. Quem dirá o que reside dentro da alma que ama?

Amar é...

É respirá-lo como se, na ausência dele, a alma fosse sucumbir e o corpo fenecer. Como se cada célula túrgida fosse explodir para alcançar o espaço, não mais faz sentido o limite da membrana de um coração que ama...

É não conseguir vivenciar um só dia sem se perceber pleno na vazão de dedicar a alguém simplesmente o que existe de melhor dentro de si.

Se Ícaro (sempre Ícaro) não tivesse "ousado", não teria feito, ao final, parte do Sol que, por tanto tempo, desejou compor. Feliz Ícaro, que se lançou rumo ao completo desafio de conhecer o que outrora ninguém havia desafiado compreender: o exaurimento de si para a imersão no ser que se desconhece.

Assim é o Amor, nada mais, nada menos do que o exaurimento de si para a completa penetração no Outro, que, por sua vez, encontra-se rumando também para seu Sol (que é o mesmo para todos).

E, no meio de tão bela jornada, na metade da ponte percorrida por duas almas que se encontram e se descobrem eis que surge o exaurimento recíproco de si, na total ausência de sentido do "eu" e do "outro", porque, ao final, não existe mais nada além do NÓS. Sequer existe fala, porque com o "nós" não é necessária uma só palavra...

Não há espaço para o "eu" e "tu" no amor.

Não se trata de anulação...

Danem-se todos os experts -ólogos que ostentam a bandeira da amargura de entender o Amor como um sentido de ocupação de espaços de "individualidade". Que individualidade? Somos almas vindas da mesma fonte, ilusoriamente dispostas em corpos, mas que conseguimos vibrar na frequencia exata do mesmo pulsante ritmo do coração.

Quando as almas não se permitem alcançar o Sol não veem a maravilha do sentido que a luz apresenta para a manutenção da vida, jazem tristonhas em seus nichos de incerteza e escuridão...

Por isso, dentre tanta diversidade escolhi para hoje diz um lindo trecho de um texto cristão.

Cristão? Logo após um tratado sobre paganismo? Sim, justa e pontualmente porque sentimentos não se compartimentam em quartos escuros e estanques, mas, antes, transbordam e imundam todo o lugar por onde passam, como a torrente de água que haure de uma grande represa.

Não se contém a força da Natureza, assim como não se represa o sentimento: são amálgamas...completam-se e, na completude, valsam juntas rumando, assim, para o tão sonhado Sol...

"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé; a ponto de transportar montes, se não tiver amor nada serei.

E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se recente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta"... Coríntios 1, 13.

...nada mais, nada menos...

2 comentários:

  1. Oi, tudo bem?
    Eu adoro esse trecho da Biblia.A primeira vez que eu vi foi em um filme, " Um amor para Recordar". Também gosto de vários sonetos de Camões que falam sobre o amor, acho perfeito.
    Eu também acho que a maior parte das pessoas nunca consegue experimentar o amor de verdade, elas parecem ter uma pequena corda as puxando para baixo toda a vez que tentam ir mais além. Isso é bem chato.
    Eu, pessoalmente, acho o amor uma coisa bem complicada, e fico triste com essa minha visão. Porque vejo em filmes, livros e até na vida real, o como as pessoas sofrem e sempre se arrependem por amar alguém. Por essa razão eu tenho receio do amor (na realidade um medo bem grande), ele parece uma bolha de sabão que pode estourar e ir embora para sempre ao menor toque.
    Eu gostei bastante do seu post.
    Que o Amor da Deusa te abençoe.
    Morgana

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  2. Morgana...grata, sempre, sempre! Palavras que convidam à reflexão. A grande questão que vejo nisso é que procuramos Amor em lugares e pessoas tão distantes que não queremos ver ou não estamos preparados para ver a simplicidade em se amar a alma próxima...cuja afinidade nos alegra, coloca-nos para cima, mas nos assusta ou não agrada o nosso ego...Ele sempre quer algo para além da felicidade...

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