quarta-feira, 30 de junho de 2010

O amor e o peptídeo...

Juras de amor promovem sempre "frios da espinha". O coração pulsa com invulgar batimento, querendo, por vezes, explodir no peito e sair por algum orifício qualquer (sabe-se lá!). Sudorese, ansiedade, atividade hormonal, enfim, que promove uma grande adrenalina.

No filme Quem somos nós? boa parte do roteiro nos apresenta a vilania dos peptídeos, "entes" orgânicos que jazem presentes em nossas estruturas, condenando-nos às galés do determinismo físico-químico, dizendo-nos, o tempo inteiro, que boa parte dos "nossos devaneios lúdicos de um amor que sofre" nada mais é do de o caldeirão peptídico do vício em sermos "capachões emocionais".

Escravos e escravas de nossos vícios, talvez - penso, talvez, porque tenho refletido muito a respeito - a percepção de um amor "bandido" possa realmente ser o que motiva parcela da humanidade a simplesmente se entregar em uma grande aposta sem, ao menos, ter consciência de si e do Outro no processo.

Se é bem verdade que não estamos todos e todas predispostos a agir de má-fé conosco e com outra pessoa, por outro lado, a nossa ignorância completa sobre o que significa o caminho da alma que pretende se libertar nos impele para a pretensão de coisificar o outro em favor de nossas miseráveis e egocêntricas mesmices existenciais.

É sempre a mesma fórmula: paixão, identidade, amor para lá e cá, eu te amo, não vivo sem você, sou seu ou sua, e, depois... hahahaha

Depois o resultado de uma sandice que veio apenas da nossa pueril maneira peculiar de ser: a atribuição de culpas recíprocas. A raiva....

Mas, e a raiva?

Devo engoli-la? Claro que sim! Se eu estiver disposta a desenvolver um câncer ou uma doença degenerativa, é sempre uma boa opção se reprimir na emoção, de preferência rezando terços, orações, meditando, fazendo ebós, pendurando amuletos. Ou, então, afogando-se em álcool, a droga mais "troféu joinha, joinha", porque é mais simples dizer que não faz mal a dizer que somos uma sociedade de drogados.

O vício do "amor" também é uma droga (em ambos os sentidos), porque enebria em face da cegueira descomedida em não se observar. Já fiz muitas escolhas por vício e tenho aprendido nas valiosas lições de vida, que o "grande amor da vida" é muito mais uma fantasia que desejo realizar a fórceps do que uma realidade inerente a si. O grande amor da vida pode ser nada mais do que o grande vício de se escolher o padrão para se pretender vencer, ao final...Isso lá é amor?

Afora isso, é maravilhoso amar, por certo! Mas a grande questão é que amor não é algo engarrafado e reificado, que surge por partenogênese quando a primeira pessoa aparece e para ela entregamos um "saquinho de carência" pedindo-lhe que tome conta.

Amor é a sensação perene de simples bem-aventurança a nos conectar não com uma pessoa, mas com uma grande hidra de coisas, pessoas, sentimentos, estados de espírito, enfim, o mundo mesmo! Porque é daí que o desapego extrai sua força. Enquanto falarmos que "amamos, MAS", trazendo a conjunção adversativa, talvez o caminho não seja de amor, e sim, de peptídeos...

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