Sempre gostei de andar de metrô e admirar a rapidez e o movimento enérgico nos trilhos, que se confundem com a minha própria estrada.
Nunca havia entendido a razão, ao certo, de apreciar passar pelas estações e ver as pessoas passando à minha frente, em átimos tão diminutos de segundos que, ao tentar "captar" e perceber, já era tarde: passaram... Passam e passarão.
Encontros de almas são como o passeio de metrô. Um vida de encontro de almas flui como um trem deslizando nos trilhos, ávido por recolher pessoas no caminho, e sabedor de que a estrada, em si, é o objetivo.
No metrô - penso - o percurso é mais importante, porque a impermanência no vai-e-vem de quem vem e vai passa a ser a tônica da movimentação que dá sentido à existência das estações repletas de pessoas que lá estão apenas para deslizarem em suas trajetórias pessoais.
Quando olho pela janela do meu coração e percebo tanta gente cruzando meu caminho de encontros, o Universo se me revela em milhões de possibilidades. Lancei-me em boa parte delas para experienciar, em cada efemeridade, o Universo a se configurar para mim. E depois de me lançar, olhar, percebem e me identificar, desapegar, assim como, no metrô, deixo para trás a imensa multidão que outrora era o meu Universo pessoal.
Olhar para a estação e ver o que se esvaiu é perceber a hora de partir para próximas estações, que sempre são desconhecidas e, talvez, nunca compreendidas pela razão.
Não sei bem se desejo exaurir minhas possibilidades de compreensão - são infindas - mas, ao menos, desejo vivenciar, em outros mais tantos espaços, a beleza de novas chegadas a novos continentes, olhando com amor o que deixei para trás e, ao mesmo tempo, confiando em poder sorrir diante do indecifrável mistério que é viver e amar.
Quanta beleza reside na efemeridade de um tempo que insiste em se estabelecer apenas na vã tentativa da mente monolítica de se apegar a detalhes que ficaram para trás. A pulsação de seres que se encontram e, por momentos, ultrapassam alteridades e individualidades, tornando-se unidade no Cosmos, transpõe qualquer barreira de entendimento.
O que ficou não está mais presente, muito menos é reavivado.
Não se revive... Não se resgata... Não se reacende...
Mas, ao mesmo "tempo" (sim, aquele mesmo tempo que não existe mais), o conceito de eternidade, como diria Borges, passar a residir na lembrança.
Muitas vezes, as lembranças são tudo que de grandioso fica nos grandes encontros entre almas nas estações de trem e penso ser com elas que criamos nossos "pequenos mundos" de plenitude, ao fecharmos, por instantes, os olhos, para sentirmos o perfume, o calor e a presença da alma que desejamos encontrar.
Simplesmente acabou, como a vida, em si, um encontro de almas, um, dentre tantos e mais tantos. Esse caminho, sempre incerto, não nos revela a meta que tentamos, de maneira tímida, descobrir, mas, antes, traz a aparente incerteza do que é desconhecido para a alma, mas revelado nas batidas do coração.
Saber reconhecer o fim de uma era é ter a virtude de se entregar à experiência de amar alguém, à plenitude, e permitir que essa alma siga seu grandioso caminho, dentro do trem, para, quem sabe, dentre tantos e muitos outros espaços dentro dessa maravilhosa ciranda chamada Cosmos, o reencontro possa trazer, mais uma vez, a alma que, um dia, deixamos em nossa especial estação.
Queria ter outra virtude - quem sabe, em outro ciclo - a de deixar, por momentos, minha roupagem material, que chora, sente e sofre, para abraçar minha essência e apenas sorrir diante das pessoas e almas que ficam para trás nas várias estações das minhas vidas...
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