segunda-feira, 7 de junho de 2010

Conjurações psicanalíticas, parte I, a importância da mudança

Voltava para casa ao cair do dia pensando se existe, em algum momento da vida, uma "conclusão" sobre quem somos, o que desejamos e, acima de tudo, o que escolheremos. A primeira impressão, claro, parece acenar para o discurso pré-programado da objetivação do percurso em "etapas", como se a vida fosse uma hidrelétrica diagramada e concretizada por etapas estanques de planejamento.

Essa visão planificadora do viver humano pode parecer uma boa saída para as explicações que se reduzem a trazer alento para quem não encontra perspectiva e, com isso, convence a si mesmo ou mesma que existe uma "honorável missão"no viver, como se o viver, em si, sem a consolidação de metas não fosse, por si só, uma grande e extensa meta, dentro de um longo processo.

Daí pensei no movimento de ondas, que oscilam, para lá e para cá, aparentemente sendo harmônicas com a consonância das águas do mar, ao mesmo tempo em que, cada uma, por si só, constitui a completude de sua finalidade no mero existir.

Existir é a meta e, dentro disso, creio, o foco maior de atenção, que já traz muita reflexão pela frente.

Não estou apontando um sentido niilista e repelindo metas ou objetivos, mas, antes, ponderando se realmente viver é se limitar a caminhos indelevelmente traçados sob a pecha de desespero existencial em dar sentido à vida. Segundo Sêneca "quando um homem não sabe a que porto se dirige, qualquer vento lhe é desfavorável" - o que leva, por alguns momentos, à reflexão exasperada de se saber o que se quer alcançar...

O saber, porém, dentro desta perspectiva do filósofo, fica bastante comprometido quando pensamos que a única perspectiva que podemos "saber"a priori é a morte. Com isso, toda a vida, em si, já seria o dissabor em face da única certeza inexorável sabida e conhecida, diante da riqueza de um mundo probabilístico, onde caminhos são escolhas, colapsos quânticos de ondas, que, dada determinada voluntariedade (alegoria da vontade do elétron), "decidem" a dimensão e direção.

Se a vida toma um rumo agora, isso não quer dizer que assim o seja dado tempo ulterior, em que condições ou variáveis supervenientes (ou potencializadas) podem, de um dia para o outro (na verdade não é de um dia para outro, estão latentes em sua esfera inconsciencial, ou sub), eclodir em um mar de mudanças.

Mudar é bom, qualquer que seja o resultado da mudança que -também fruto de uma aglutinação probabilística do restante do Universo que se interliga em radias conexões - afinal, nunca sabemos, ao certo como será.

Porém, ante a perspectiva dual de apego a um sentido de perpetuidade (talvez a tentativa de evitar a grande Tanathos) acabamos recrudescendo o potencial latente em nós e nos congelando para o devenir tão desconhecido e, ao mesmo tempo, tão desejado.

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