sábado, 5 de junho de 2010

O dia em que Ariana não mais se deitou com o pai...

Ariana havia acordado disposta, naquele dia, a encarar um de seus maiores e mais negados medos: enfrentar seu pai diluído naquela alma que ali se apresentara como um feixe de luz a extraí-la da escuridão existencial em que vivia.

Imersa numa ignorância de si que já causava desconforto, a mulher, vista por muitas pessoas como uma vaporosa "guerreira", havia se transmutado num poço de questionamentos sobre sua vida até ali, cercando a tudo e a todos de inúmeras provocações e perguntas que, de fato, buscavam apontar, para Ariana, o verdadeiro conteúdo de sua essência.

Preparou-se cuidadosamente para seu "amado pai" materializado no amante do dia, amado que se desfez tão rápido quanto surgiu à sua frente, espargindo-se em milhares de inoportunas moléculas de dúvidas, que espelhavam a doce tentativa de Ariana de se (re)conhecer.

O coração descompassado atendeu o chamado da campainha que trouxe seu amado até ela. Os olhos se encontraram e se perderam. Com eles Ariana se encontrou na tórrida corrente elétrica que perspassou por seu corpo e eclodiu no êxtase de atingir o espaço sideral na pulsão de toda uma carga produzida pelo simples princípio do prazer.

Olhos cruzaram-se, ao mesmo tempo em que fluidos percorreram corpos insaciáveis de duas pessoas que, fugindo de si mesmas, encontraram-se no meio do caminho de tantas dúvidas, tentando, um no outro alicerçar a decisão de se assumirem, cada qual, suas vidas, diante de suas próprias almas.

Em meio ao êxtase, Ariana viu seu pai, ao longe, acenando para ela, trazendo com ele tudo que aquela moça travou em seu espírito sob a pecha de esquecimento: as promessas dos cimenas que nunca se realizaram, os dias de viagens que nunca foram cumpridos, as mentiras contadas, uma após a outra, na esperança de construir para Ariana um mundo melhor.

Reconhecido seu pai naquela multidão de pais, Ariana não pôde prosseguir. Ficou estática em seu lugar orgásmico, assombrada pelo fantasma que a trouxera pela mão à realidade de não se voltar, com os pais-amantes, à história de resolução na casa paterna. Com o gozo veio o choro e a vontade de simplesmente quebrar aquela sina e reescrever um novo e esperançoso capítulo de uma bela história.

E assim Ariana decidiu que, dali em diante, não mais se deitaria com seus pais...

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