quarta-feira, 21 de abril de 2010

Espelho, espelho meu, minha companheira é tão eu quanto eu?


Não, vocês não estão com miopia, problemas visuais: a mulher pintada é a "cara" do pintor. Trata-se de uma das obras de Magritte, um pintor de soube retratar, como ninguém, o prenúncio de tudo aquilo que vem as ser o desvendamento de um Universo androcêntrico ainda pouco conhecido nosso.

Como vemos, o pintor, todo envolto na "couraça" de um paletó uniformizante, que esconde sua essência e o padroniza num estereótipo excludente (já que o estereótipo de mulher docilizada não usa esse aparato, melhor, essa armadura), pinta, cria, reinventa o modelo de mulher que seja seu alter-ego.

Somos espelhos reificados de um Universo que nos consagra, por meio da desqualificação, a uma posição secundária em relação à identidade. Somos "pintadas" e "geradas" numa "nova modelagem", à imagem e semalhante de nossos criadores.

Essa a perspectiva com que li o quadro, dentro de uma compreensão de mundo em que o universo rico e complexo das relações humanas é reduzido à transformação da genialidade da mulher em um mero objeto de deleite, pintado à mão, do jeito que melhor aprouver ao parceiro.

Dentro disso, o problema: quando o parceiro descobre que a pintura que fez em seu universo emocional e mental não corresponde à aquele "ser estranho" que está à sua frente, o susto!

E alguma certeza, é claro, que com algumas palavras, o falar correto, tudo se resolve, porque a fala mansa do mané, do lobo na pele de cordeiro, passa a ser a última esperança do perverso (sim, a essa altura estou falando em perversão) que, tentando manipular a palavra, ainda tenta colocar a parceira na forma de bolo da aparência de si...

Eis o retrato...

Um comentário:

  1. Show de bola!!!!!
    A pintura retrata muito bem o que a sociedade androcentrica faz conosco, mulheres!

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