sábado, 3 de abril de 2010

Enquanto não faço minha farinha...



Hoje fui ao supermercado, depois de um rigoroso inverno nas imediações...

Não poderia ser mais providencial o fato de ir ao supermercado numa véspera de Páscoa, cujo único sentido para as inúmeras crianças tiranas era a opressão de seus pais e mães repletos de remorsos e olheiras.

"Manhê, eu quero esse." - dizia um. "Não, eu quero o que vem com carrinho", berrava outro. A "garotinha", vestidinha de rosinha com lacinho na cabecinha queria um ovinho que combinasse com sua roupinha, também rosinha... Comportadinha, recolhidinha, cheia de tiraniazinha, chorou, chorou, debatendo-se no chão até a pobre mãe com olheiras pegar o ovinho fofolete que desejava.

Eu que estava ali apenas para comprar minha farinha integral - que estava em promoção - a ração dos gatos e um cogumelo para meu almoço, percebi que oferta alguma para a paz de espírito em relação a ver o mundo se deteriorar bem à frente. Sim, essa é a minha opinião, porque, dentro de tanto ovinho, tanto carrinho e roupinha rosa, enxergo teias outrora mais sutis e, que hoje, estão toscas, bem toscas, para quem quiser e puder enxergar.

Os condicionamentos de passividade da mocinha cor-de-rosa já começaram ali, para a menininha, que apreendeu bem as lições de manipulação e subserviência: basta se fazer de vítima que tudo de resolve. O meninão, por sua vez, é o "princípe", o "rei da mamãe" e pensará - mesmo - que o mundo lhe deve obediência, por conta do seu pauzinho de ouro...

E o carrinho? Ah, sim, o carrinho é o bem de consumo que o menininho perseguirá a vida inteira, para que, com ele, seu pauzinho seja idolatrado e a menininha (sim, aquela de rosinha) possa transar com ele na hora em que ele quiser.

Pensei, vendo languidamente a cena, que preciso aprender a fazer minha farinha. Afinal, já faço iogurte, pão, amaciante, detergente... falta-me o monopólio do conhecimento da farinha para que possa me ater ao hemisfério da minha morada!

4 comentários:

  1. kkkkkkk
    dá pra fazer polvilho em casa!!!

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  2. Que legal, Ju! Como? Você já fez? Ficou legal? Conta aí!

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  3. Perfeito. É um retrato claro do que vimos neste feriado passado. Será que conseguimos escapar das obrigações que o sistema nos impõe?

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  4. É uma pergunta muito importante e uma reflexão muito profunda que você postou. Achei interessante referir-se à "escapada", porque me faz pensar em aprisionamento da alma por parte de um sistema condicionante. Não saberia afirmar como sair disso. Acho que fico mesmo tentando "escapar", tentando respirar mais! Hehehe

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