segunda-feira, 12 de abril de 2010

A bolha de sabão numa relação de hierarquia de gênero

Bolhas de sabão são singelas: mudam, por átimos de segundo, a realidade colorida pela leveza da água em suspensão, ao mesmo tempo em que nos lembram que, dentro de sua efemeridade, transformam o mundo e perecem, deixando apenas a doce marca da lembrança.

Um relacionamento dentro de uma agenda de hierarquia de gênero é assim, uma bolha de sabão. Muda, por instantes, a realidade, embeleza, projeta metas, planos e sonhos e, depois disso, ou até mesmo antes, explode, fenecendo e levando consigo o que poderia ter sido e que nunca será - quão efêmera é a bolha de sabão!

O relacionamento hierárquico e androcêntrico chega aos poucos, leve, belo, com passionalidade, identidade, divisão de projetos e sonhos. Centra-se na promessa da igualdade, do respeito à individualidade e da auto-reflexividade em relação ao compartilhamento, por parte dos amantes, da crítica ao androcentrismo com que boa parte das relações são formadas e desenvolvidas.

Idéias são enaltecidas, valores e qualidades são tidas como o suficiente para encontramos "almas gêmeas" aos montes, fruto, talvez, do afã de encontrar, dentres tantas bolhas, aquela que se encaixe em nosso sonho de uma bola perfeita. O parceiro ou a parceira entende, compreende, acha emancipatório, enfim, entra conosco na bolha por ele ou ela criada e, dentro disso, partilham projetos e metas.

Mas tão logo a "zona de conforto" e "segurança" presentes no binário androcêntrico aparecem, a bolha se rompe, fazendo extravasar a realidade encoberta, por momentos, pela beleza daquela forma perfeita que baila nos céus.

A qualidade é, na verdade, o pior defeito, encoberto pela sensação de leveza da bolha, que encobriu a estrutura em cima da qual uma relação de gênero pode se balizar: hierarquia, desqualificação e destruição da igualdade. O mundo que outrora era diferente, volta a ser como sempre foi: espaço do "macho" e sodomizador da emancipação das mulheres.

A mulher emancipada, dentro da ótica androcêntrica e machista, é tida como "chata" só por mostrar sua opinião em debate, contestando a ordem em que se lastreou boa parte da produção literária, acadêmica e profissional. É temparamental e "histérica" (de hysteros) porque, dentro da estreita visão dual, não pode agir na defesa de sua essência, qualquer que seja o ato que ira praticar.

Não pode xingar, falar palavrão, assim como sequer pode pensar em legítima defesa quando instada a fazê-lo: deve, pois, abrir o peito, mostrar o coração e, dentro disso, morrer feliz na mão de seu algoz, porque, afinal, a "compaixão é qualidade feminina, tal qual Nossa Senhora".

E o relacionamento hierárquico-bolha-de-sabão?

Revela apenas o que é: um bonito passatempo, mas que, ao menor sinal de profundidade, não ousa deixar de ser apenas um pouco de sabão diluído em água, que irá compor, por frações de segundo, os céus, indo perecer como perecem sonhos construídos em sistemas simbólicos opressores: virando cristais de água...

Nenhum comentário:

Postar um comentário