De todas as artimanhas criadas pela prodigialidade humana, o debate acadêmica é, sem dúvida, para mim, a maior demonstração de insuperável dualidade. Um poço sem fundo nos separa de nossa vida pulsante, como se cada doutrina fosse uma bonita roupa de zíper, que vem e vai, no balanço de nossos corpos que não encontram o vestido certo para o baile de formatura.
Não nos encaixamos, e, por não nos encaixarmos, culpamos a liberdade... Mas, enfim, não nos encaixamos porque nunca procuramos a unidade que estabiliza mente e corpo.
Tal qual o Médico e o Monstro, passamos uma vida inteira de bipolaridade, debatendo-nos diante dos gritos de alerta e socorrro que o corpo dá como resposta à mente que o sodomiza.
Gritamos.
Expulsamos secreções.
Adoecemos.
Caímos, enfim, na mais pura escuridão de nossos piores pesadelos, que se alimentam do verbo soprado pela mente demente e enferma.
E a academia?
A concretudo de toda a mediocridade esquizóide: somos senhores e senhoras fecundos e fecundas de idéias, teses e teorias. Estéreis, contudo, em sensibilidade para a vivência harmônica entre a alma e o corpo.
Aliás, que alma?
Que espírito?
Não temos Deus porque Ele, sendo reduzido a uma pantomima, foi excomungado por nosso desespero em nos fazer autônomos. Excluímos do Universo, criando um outro, em cujo centro egóico, perverso e indiferente, projetamos nossa insensibilidade, para que possamos assistir, de camarote, o fim de um tempo que outrora já anunciamos.
Estamos morrendo e, com nossa morte, celebramos a vida.
Vida e morte dão-se as mãos e se abençoam, no casamento sagrado entre mente e corpo.
Salve a vida!
Salve a morte!
No eterno ciclo de vida-morte-vida, salvam-se todos à margem do purgatório!
Amém!
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